O CENTENÁRIO DE PAULO FREIRE, PROFESSOR DUDU E O LEGADO DA ESPERANÇA



29/07/21 10h21   Artigos Imprimir

 

Por Horimo Medeiros  ( * )

 

“Enquanto presença na História e no mundo, esperançosamente luto pelo sonho, pela utopia, pela esperança, na perspectiva de uma Pedagogia crítica. E esta não é uma luta vã.” (Paulo Freire, pedagogia da indignação) 

 

 

No ano do centenário do nosso grande educador Paulo Freire (1921-2021), a educação tem avançado entre reinvenções, superações, negações, distanciamento, problemas sociais, problemas de financiamento, questões emocionais, técnicas, tecnológicas, metodológicas, discursos de doutrinação nas escolas, transformação dos alunos em número do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e outras e outras questões... Tudo parece tão confuso e ao mesmo tempo, tão desafiador.

Hoje somos confrontados por Paulo Freire no desafio de viver a esperança. Viver a esperança transformadora de superar os obstáculos e transformar caos em vida. Não é possível limitar a esperança a um sentimento individual.  Esperança produz resultados práticos no agir educativo. Resultados que vão além dos limites da escola, e, até, dos limites da comunidade escolar. Resultados históricos que criam uma geração de esperançosos.  

Milhares de educadores em todo Brasil estão semeando e colhendo esperança. Para ilustrar, aqui vamos tratar da trajetória de Rubens Marques de Souza, professor Dudu do PREMEM (Colégio Estadual Walter Franco, Estância/SE). Por certo, não queremos trazer uma biografia não autorizada, porém, pontuar dilemas e conquistas de alguém que foi chamado à educação como sacerdócio. Alguém que, ao caminhar, a vida o retira da calmaria dos números (formado em contabilidade e servidor público da cidade de Estância/SE) e o confronta com a tradicional sala de aula (quadro, giz e alunos). Poucos ou quase nenhum recurso. Será que é possível revolucionar a educação com tão pouco?

O professor Dudu representa uma geração de professores comprometidos em formar uma nova geração. O que faz dele um grande educador não é uma licenciatura, nem mestrado, nem doutorado. O grande educador não se limita a uma metodologia, mas usa todas as metodologias ao mesmo tempo. O grande educador não se limita a disciplina, mas ele é Multi/Inter/Trans/Poli disciplinar. O compromisso com a transformação da realidade do estudante é o que define toda prática docente. Para ele não há espaço para bajulações, nem querer ser o professor queridinho da turma, pouco ou nada de elogios. Professores que se reconhecem na luta, que tomam o esforço e o conflito como instrumentos de aprimoramento humano; que fazem do desenvolvimento do educando e da boa prática educacional uma rotina cotidiana. Em síntese, o grande educador tem compromisso com a vida do aluno e com o desenvolvimento deste na sua comunidade, ou seja, resultado na vida do educando.

Uma frase do professor Dudu, que permeia o imaginário de gerações de alunos é: “NÃO SOU E NEM NUNCA TIVE A PRETENSÃO DE SER UNANIMADADE”. Muitos alunos gostam e outros odeiam suas aulas, contudo todos são impactados e transformados, e os conteúdos passam a ter significado. O grande professor não tem medo de um bom debate, de ser firme nas posições (“sem nunca perder a ternura”) e sempre priorizar o desenvolvimento do educando. Tem aluno que estuda para provar que o professor Dudu está certo, tem outros que estudam para provar que o professor Dudu está errado, no final, todos estudam.

Professor não tem medo de agradar ou desagradar, pois tem profundo compromisso com a formação do discente na sua realidade e no tempo. Quantas vezes um ótimo professor vai ser acusado de doutrinação? Acredito que várias vezes. Só que, ao ver no tempo, até o mais duro opositor vai reconhecer que conseguiu significar conteúdos e modificar sua vida. Para além da unanimidade ou notas nos diários, o grande professor tem o firme propósito de tornar o educando um ser humano melhor no final do percurso.

Como reverenciar um grande educador? Ao perceber no decorrer do tempo, seus ex-alunos em diversas tendências ideológicas, envolvidos nos diversos grupos sociais e lutas políticas; há uma firme convicção de ter semeado e colhido esperança. A alegria de fazer alguém crescer e se destacar na sociedade é um privilégio dos grandes educadores, mas só os esperançosos conseguem impactar uma geração.

                Para Hannah Arendt “compreender significa, em suma, encarar a realidade sem preconceito e com atenção”. Dificilmente qualquer aluno (a) ou ex-aluna (o) vai deixar de reconhecer esta frase nas aulas do professor Dudu. Muito além das sensações, tão representativas do fazer educacional da atualidade, a missão sublime do professor é dar significado atual a conteúdos, ementas e grades curriculares.  Os anos de magistério do professor Dudu fazem com que sua missão educadora ultrapasse os muros do PREMEM, influenciando a realidade social e política de Estância/SE, da Região Sul e de todo Estado de Sergipe. Eis, na prática, o legado de esperança do mestre Paulo Freire (1921-2021).

( * ) Sociólogo e professor do IFS campus Estância